SOBRE

Censo da Psicologia Brasileira: Autoconhecimento como Motor de Transformação

Levantamento traz o resultado de mais de 20 mil entrevistas abordando dados sobre formação e inserção no mundo do trabalho, reflexões sobre fazeres e condições profissionais, além de engajamento social

Logo do Censo

A realização do CensoPsi foi um compromisso assumido pela gestão do XVIII Plenário, prevista na plataforma da chapa e no planejamento estratégico. Ele se insere nos marcos comemorativos dos 60 anos de regulamentação da nossa profissão e, assim, oferece mais do que simples dados, reflexões cruciais para compreender a nossa trajetória histórica, a nossa configuração presente como base para pensarmos o nosso futuro.

Uma profissão é algo dinâmico e construído cotidianamente por uma comunidade de interessados – docentes, pesquisadores, alunos, profissionais – e, portanto, algo que se altera com o tempo e com as transições econômicas, sociais e políticas por que passa o nosso país. Assim, a nossa profissão mudou muito, se ampliou, se desenvolveu, se interiorizou e ter uma caracterização de como ela se configura no presente, como se relaciona com esse complexo entorno social é fundamental tanto para o Conselho (que é a autarquia que a orienta, acompanha e fiscaliza) como para a sociedade (que é a principal beneficiária do desenvolvimento da Psicologia).

Foto de uma pessoa com máscara de proteção contra Covid-19, andando na rua a noite, com luzes ao fundo
Foto por Julián Amé em Pixabay

Realizar o CensoPsi, com a amplitude que o caracterizou – tanto em termos de abrangência da categoria participante quanto da amplitude das questões de abordou – foi um grande desafio em tempos de uma crise econômica e sanitária sem precedentes que vivemos nos últimos anos e da qual ainda não nos livramos efetivamente. A pandemia alterou o nosso modo de vida e de trabalho, afetou a saúde, ceifou vidas de milhares de pessoas, muitas(os) psicólogas(os). Afetou, certamente, as nossas condições de trabalho, jogou profissionais no desemprego e subemprego e, ao mesmo tempo, o desafiou a usar mais intensamente recursos tecnológicos que garantissem a continuidade dos serviços prestados à população.

No entanto, para além de compreender os impactos da conjuntura atual, o CensoPsi nasce com a proposta de ser um instrumento para acompanhar as transformações em curso na formação e no exercício profissional da Psicologia, de modo a disponibilizar informações relevantes para o sistema Conselho, para o conjunto de entidades da áreas, para a comunidade acadêmica que possam contribuir na luta história por termos uma categoria profissional sintonizada com as necessidades mais prementes da nossa sociedade e, ao mesmo tempo, apoiada nos avanços mais significativos que a ciência lhe oferece.

Podemos afirmar que estamos diante da maior pesquisa já realizada sobre a profissão, o maior levantamento brasileiro, quiçá do mundo, tanto pela amostra de mais de vinte mil psicólogas e psicólogos como pela extensão de aspectos relacionados ao seu exercício profissional que foram alvo de estudo. Para tarefa com tamanha envergadura, o Conselho Federal de Psicologia contou com uma rede robusta de parcerias. De início vale ressaltar a parceria com a SBPOT (Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho) e, de forma específica, o GT83 da Anpepp – Configurações do trabalho na contemporaneidade e a Psicologia Organizacional e do Trabalho. O interesse em estudar as condições de trabalho de psicólogas e psicólogos, em avaliar em que medida o processo de precarização do trabalho também nos atinge, foi o alicerce que viabilizou o presente projeto. Contamos com um grupo de pesquisadores com experiência prévia em estudos sobre a profissão que foi fundamental na estruturação do instrumento de coleta de dados, do processo de coleta e análise de dados.

Imagem por Gerd Altmann em Pixabay

Precisamos destacar também que, internamente ao Conselho Federal de Psicologia, foram unidos os esforços da CCAP (Comissão Consultiva de Avaliação Psicológica) e da CDH (Comissão de Direitos Humanos), que tinham projetos específicos de pesquisa que foram incorporados ao CensoPsi. Para além disso, contamos com o apoio da rede de Conselhos Regionais de Psicologia e a rede de entidades nacionais da Psicologia que integram o FENPB (Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira). Todos se engajaram na divulgação da pesquisa nas suas redes, chamando todas(os) a participarem do censo. Sem esse esforço coletivo – e com o apoio que a área administrativa do CFP – seria impossível, no curto espaço de tempo que tivemos, dar conta de tarefa tão complexa e de tamanho porte.

O CensoPsi foi pensado como uma grande bússola para o Sistema Conselho, no sentido de embasar suas políticas a partir de um conhecimento mais profundo sobre as mudanças profissionais de uma maneira mais concreta. Afinal, nossa profissão é dinâmica, não é estática. Nossa produção científica também está avançando e se consolidando como uma das mais expressivas do hemisfério Sul. Fatores conjunturais e estruturais afetam a nossa empregabilidade e as condições em que exercemos a nossa profissão; por outro lado, as ferramentas e os processos de trabalho também vão se alterando nesse movimento contínuo de reconfiguração do mundo do trabalho, cada vez mais impactado pelos avanços tecnológicos e pela dinâmica do capitalismo no seu atual estágio histórico. Nesse sentido, o Censo dá uma atenção especial ao segmento recém-ingresso na profissão e que dificuldades cercam esse momento inicial da carreira. Outro eixo fundamental para análise são as transformações que estão ocorrendo na profissão com o avanço das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Estamos aí, certamente, diante de duas questões que exigem desde já a ação consistente do Conselho Federal de Psicologia. Por outro lado, temos pela primeira vez um amplo conjunto de informações sobre como a categoria estrutura sua concepção da profissão, dos seus desafios frente a uma das sociedades mais desiguais do mundo e, em decorrência, como se compromete e se engaja em ações em defesa da democracia e dos direitos humanos. Estamos aí diante de dois valores centrais ou estruturantes da forma como a Psicologia se concebe como ciência e prática profissional na atualidade.

Capas das publicações, com o volume 1, sendo o de capa azul e o volume dois sendo o de capa amarela

Publicações do Censo da Psicologia

As informações geradas pelo CensoPsi são apresentadas também em livros que se estruturam em dois volumes, pela amplitude de questões abordadas e sobre as quais se pode construir reflexões significativas sobre o que caracteriza o exercício da psicologia no Brasil de hoje.

Acesse as publicações

Assim, é, para nós, uma imensa satisfação presentear não apenas psicólogas e psicólogos mas também toda a sociedade com este censo, precisamente no ano em que comemoramos 60 anos da Psicologia como ciência e profissão regulamentada. Fruto do trabalho árduo de uma coletividade ampla, este censo materializa um esforço típico da nossa profissão: ouvir, observar, refletir, ponderar, conhecer. Cabe, assim, destacar o que mais se espera a partir do momento em que os resultados são tornados públicos. Eles devem estimular debates, reflexões, discussões que possam nos ajudar a compreender em profundidade os desafios que nos cercam como profissão. Tal compreensão, por seu turno, é fundamental para que tanto as entidades profissionais, científicas como as formadoras possam refletir sobre as forças que estão moldando a nossa “cara” atual e em que direção precisamos trabalhar doravante.

Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega

Presidenta do Conselho Federal de Psicologia na Gestão 2019 - 2022

Antonio Virgílio Bittencourt Bastos

Coordenador-Geral do CensoPsi